quarta-feira, 14 de março de 2012

Poemas de Pablo Neruda
Antes de Amar-te... (Pablo Neruda) _________________________________________________________________* Antes de amar-te, amor, nada era meu Vacilei pelas ruas e as coisas: Nada contava nem tinha nome: O mundo era do ar que esperava. E conheci salões cinzentos, Túneis habitados pela lua, Hangares cruéis que se despediam, Perguntas que insistiam na areia. Tudo estava vazio, morto e mudo, Caído, abandonado e decaído, Tudo era inalienavelmente alheio, Tudo era dos outros e de ninguém, Até que tua beleza e tua pobreza De dádivas encheram o outono. *_______________*__________________*________________________* Nos Bosques, Perdido (Pablo Neruda) ________________________________________________________________________* Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro E aos labios, sedento, levante seu sussurro: era talvez a voz da chuva chorando, um sino quebrado ou um coração partido. Algo que de tão longe me parecia oculto gravemente, coberto pela terra, um gruto ensurdecido por imensos outonos, pela entreaberta e úmida treva das folhas. Porém ali, despertando dos sonhos do bosque, o ramo de avelã cantou sob minha boca E seu odor errante subiu para o meu entendimento como se, repentinamente, estivessem me procurando as raízes que abandonei, a terra perdida com minha infância, e parei ferido pelo aroma errante. Não o quero, amada. Para que nada nos prenda para que não nos una nada. Nem a palavra que perfumou tua boca nem o que não disseram as palavras. Nem a festa de amor que não tivemos nem teus soluços junto à janela... ______________*____________________________*____________________________ Pablo Neruda
Famoso poeta chileno, nascido em Parral, prêmio Nobel de literatura em 1971, morreu doze dias após a deposição de Salvador Allende, de quem era amigo pessoal e tendo considerado o golpe uma catástrofe, pois tornaria o país ainda mais difícil para milhares de pessoas. Nesse período, espalhou-se um boato pelo mundo todo, de que o poeta teria sido fuzilado, preso ou deportado. Afirmava-se na França, que seu câncer tinha se originado pelo desgosto de ver a política de seu país tomar rumos opostos ao que ele esperava. Seu nome verdadeiro era Ricardo Eliecer Neftali Reyes y Basoalto, filho de um ferroviário que lhe proibia escrever poemas, tendo publicado seu primeiro livro em 1921: La Cancion de la Fiesta. Seu nome público foi adotado quando ele tinha 19 anos e em homenagem a um escritor checo que admirava, Jan Neruda. Considerado o poeta mais importante da América espanhola, introduziu inovações surrealistas em seu idioma. Escritor profícuo, aos 15 anos, Neruda produzia duas dúzias de poemas por dia e sua obra completa ultrapassa 3.000 páginas. Foi também diplomata por seu país a partir de 1927, estando na Índia, Ceilão, Argentina e Espanha, onde conheceu Garcia Lorca. Depois, escolhido para o cargo de embaixador em Paris. Durante a Guerra Civil Espanhola, deu mostra de grande coragem pessoal, ajudando e abrigando os inimigos do franquismo vitorioso, que já executara Lorca. Em 1944, eleito senador, ele lutaria por uma menor influência americana no continente. Depois de acusar o presidente de seu país, em 1948, de vendido, foi expulso do Chile. Atravessou os Andes a cavalo e chegou a Argentina só com a roupa do corpo. Viveu afastado de sua terra por oito anos e em diversos países. Casou-se três vezes e só teve uma filha, no primeiro casamento, morta em 1942. Neruda vestia-se sobriamente, era afável e ironizava sua própria bagagem literária, ao afirmar que ela devia pesar uns três quilos. Considerava a poesia um gênero talvez em vias de superação.

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