Encalhe de ingressos de grandes atrações pode mudar o mercado de shows no Brasil
RIO - De pouco serviram os esforços da produção de Lady Gaga para encher o Parque dos Atletas, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no último dia 11. Não teve site de compra coletiva nem oferta de dois por um que levassem ao espaço as 90 mil pessoas esperadas pela produtora Time For Fun. Apenas 40 mil espectadores apareceram — e, desse total, não é possível saber quantos efetivamente pagaram. Agora, a vítima da vez é Madonna. Com show agendado para o mesmo local no próximo domingo, dia 2, a rainha do pop já é alvo de promoções. A Time For Fun — novamente ela — anunciou uma “cota especial” com valor 44% abaixo do oferecido originalmente, e levou alguns fãs à fúria.
Procurada, a produtora não quis se
pronunciar sobre a estratégia que diminuiu o preço do ingresso de pista, por
exemplo, R$ 360 para R$ 200 (com mais R$ 120 de taxa de conveniência). Entre
setembro e quinta-feira passada, as ações da produtora caíram de R$ 17 para R$
10 na bolsa de valores. No mesmo período, seu valor de mercado foi de R$ 1,2
bilhão para R$ 700 milhões. Segundo especialistas, é, em parte, fruto tanto do
desinteresse do público pelas megaturnês de cantoras populares quanto da perda
do Cirque du Soleil para Eike Batista.
— Muitos fãs estão revoltados, não acham
justo que a Time For Fun tenha reduzido o preço depois de eles terem pago quase
o dobro a mais, e querem o dinheiro de volta — conta Lucas Augustinho,
responsável pela página Madonna Oficial Brasil, com 8,5 mil fãs no Facebook.
Consultado, o Procon-RJ diz que não há
muito o que fazer.
— Como a mudança de preços foi colocada
como um fator promocional, uma oferta, não vejo crime. A empresa está no
direito dela — afirma o advogado Vinícius Leal. — Mas quem se sentir lesado
pode recorrer aos órgãos de defesa do consumidor ou à Justiça com todas as
provas materiais que puder (ingressos, notícias, folheto sobre oferta...).
Enquanto isso, produtores de shows país
afora tentam entender a situação estabelecida no Rio e remediar o problema.
Aparentemente o carioca não tem dinheiro ou vontade de acompanhar shows com
entradas que rondam os R$ 750 (valor cobrado pela entrada inteira na pista
premium de Lady Gaga e Madonna).
— A meia-entrada e a carga tributária,
que leva 40% do valor do ingresso, são sempre culpadas — diz Gladston Tedesco,
do Grupo Tom Brasil. — Mas há outros fatores também. O cachê dos artistas
costuma subir quando vêm ao Brasil, seja porque estão longe, seja porque sabem
que a economia vai bem. Também vivemos um acúmulo de shows no segundo semestre
do ano, e ninguém tem R$ 1.500 (valor para um casal) para gastar todo
fim de semana. Então, seleciona bem. Depois tem a frequência com que esses
cantores têm passado por aqui. Parafraseando Chico Anysio quando o Papa João
Paulo II veio ao Brasil pela segunda vez, digo que tem gente que se vier mais
vai acabar dando o pontapé inicial num Fla x Flu qualquer.
Como solução, Tedesco sugere o
financiamento:
— Com Chico Buarque e Marisa Monte,
parcelamos os ingressos em três vezes e negociamos que o cachê seria pago aos
poucos também. Isso é mais difícil num cenário internacional, mas é um caminho.
Roberto Medina, criador do Rock in Rio —
e da Cidade do Rock, hoje batizada de Parque dos Atletas —, enxerga “um porre
de sucesso” no cenário musical brasileiro e prevê mudanças no valor dos
ingressos para breve. Para ele, que se diz “um guardião do preço do Rock in
Rio”, a R$ 260 por um dia repleto de shows, a dificuldade encontrada na venda
de ingressos caros deve acabar influenciando até os cachês cobrados pelos
artistas:
— Eles aumentaram com a derrocada da
indústria fonográfica, mas vão acabar se reajustando. Quando você chega ao teto
do preço, o mercado precisa encontrar soluções para tornar seu produto
acessível novamente, da produção local até a outra ponta da corda, as bandas.
Os ingressos no Brasil estão incompatíveis com a renda do brasileiro. O
consumidor tem que brigar pela qualidade e também pelo preço — analisa Medina,
que viu as 80 mil entradas para o Rock in Rio 2013 disponibilizadas para
pré-venda se esgotarem em 52 minutos, com apenas três bandas confirmadas no
line-up até então.
http://oglobo.globo.com/cultura/madonna-dois-por-um-para-reconquistar-cariocas-6822437#ixzz2DRNOvziY
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